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Em 1969, Curitiba foi capital do Brasil por três dias como parte de estratégia do regime militar; conheça a história

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Curitiba foi capital do Brasil por 3 dias; entenda o motivo

Por Mariah Colombo, g1 PR — Curitiba

11/11/2025 04h01 Atualizado 11/11/2025


  • Em março de 1969, Curitiba foi declarada oficialmente a capital do Brasil por três dias. A mudança foi simbólica e fez parte de uma estratégia propagandística do regime civil-militar.

  • Entre os dias 24 e 29 de março daquele ano, o poder executivo nacional foi transferido para o Palácio Iguaçu, sede do governo estadual. As Forças Armadas e os Ministérios foram alocados em outros locais da cidade.

  • A mudança para Curitiba foi motivada por uma série de fatores, como a então primeira dama Yolanda Costa e Silva, que nasceu na capital paranaense, e o apoio do prefeito da época, Omar Sabbag, e do governador, Paulo Pimentel, ao regime militar.

Curitiba foi capital do Brasil por três dias como parte de estratégia do regime militar

Curitiba foi capital do Brasil por três dias como parte de estratégia do regime militar

Em março de 1969, por três dias, Curitiba foi declarada oficialmente a capital do Brasil. A mudança foi simbólica e fez parte de uma estratégia propagandística do regime civil-militar, que naquela altura era liderado pelo presidente Artur da Costa e Silva.

Entre os dias 24 e 29 de março daquele ano, o poder executivo nacional foi transferido para o Palácio Iguaçu, sede do governo estadual. As Forças Armadas e os Ministérios foram alocados em outros locais da cidade.

Mais uma vez, a capital nacional mudará temporariamente, de forma simbólica. Entre esta terça-feira (11) e 25 de novembro de 2025, a capital do Brasil será Belém, no Pará – que vai sediar a Cúpula do Clima da ONU (COP 30).

A medida está prevista no artigo 48 da Constituição, mas é rara de ser executada: desde a inauguração de Brasília, isso aconteceu apenas quatro vezes.

Chegada do então presidente Costa e Silva em Curitiba no dia 24 de março de 1969 — Foto: Acervo Museu da Imagem e do Som do Paraná (MIS-PR)

A mudança para Curitiba foi motivada por uma série de fatores, como explica o historiador Luiz Gabriel da Silva. A começar pela então primeira dama Yolanda Costa e Silva, que nasceu na capital paranaense. O prefeito da época, Omar Sabbag, e o governador, Paulo Pimentel, eram apoiadores do regime militar.

  • ➡️ A Ditadura Militar no Brasil foi um regime autoritário que durou de 1964 a 1985, instaurado após o golpe que depôs o presidente João Goulart. O período foi marcado por restrições à liberdade, censura à imprensa, repressão política, perseguição de opositores com prisões, tortura, desaparecimentos e exílio.

Presidente Costa e Silva e primeira-dama, Yolanda Barboza, em 1967 — Foto: Carlos Fico/YouTube/Reprodução

Para coroar o cenário favorável da mudança, o então reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Flávio Suplicy de Lacerda, propôs a concessão do título de doutor honoris a Costa e Silva.

Naqueles dias, além das homenagens, algumas promessas foram feitas.

“De concreto nada foi feito. Assim, houve promessas, mas do ponto de vista prático nada mudou para o Paraná. Foi mais uma propaganda mesmo”, detalha o historiador.

Palácio Iguaçu em 1969 – sede do governo estadual do Paraná — Foto: Museu da Imagem e do Som/Secretaria de Estado da Cultura

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Costa e Silva é recebido no Palácio Araucária, em Curitiba — Foto: Acervo Museu da Imagem e do Som do Paraná (MIS-PR)

Segundo Luiz Gabriel da Silva, Paraná e Santa Catarina foram estados estratégicos para o regime civil-militar, uma vez que o Rio Grande do Sul se mostrou resistente.

De lá era o presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar. Também foi o gaúcho Leonel Brizola que defendeu uma resistência armada contra a implementação do golpe, mas que foi recusada por Goulart.

Jornal da época noticia vinda do então presidente Costa e Silva para o Paraná — Foto: Reprodução/Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional

“O Paraná e Santa Catarina representavam uma área de contenção do Rio Grande do Sul. Não que tenha chegado a haver um conflito, mas era uma região de interesse geoestratégico aqui”, detalha.

Além disso, conforme o pesquisador, o Paraná forneceu também diversos nomes políticos para o regime civil-militar, como Ney Braga – que foi governador do estado e ministro durante o governo militar de Castello Branco e de Ernesto Geisel – e o próprio Flávio Suplicy de Lacerda – que foi ministro da Educação no governo Castello Branco.

Em Curitiba, uma relação ambígua

Com presenças nacionais, Curitiba foi palco de primeiro comício das Diretas Já — Foto: Reprodução/RPC

O historiador destaca ainda que Curitiba representou uma relação ambígua com o regime militar.

Enquanto ditadores recebiam homenagens e as elites apoiavam o regime, foi na capital paranaense também que foi registrado o comício que serviu como pontapé para o movimento das Diretas Já, que culminou na retomada das eleições diretas para presidente da República no Brasil.

“Essas memórias divergentes são importantes para a gente, independente da posição ideológica de qualquer um, conhecer elementos da memória que foram silenciados, para que a gente possa ter um juízo de valor mais ponderado”, defende Luiz Gabriel da Silva.

Outras capitais simbólicas

Desde a criação de Brasília, a transferência simbólica da capital brasileira ocorreu em cinco ocasiões, por motivos específicos, como homenagens e eventos internacionais.

  • Curitiba (PR), 1969: A decisão teve caráter propagandístico, com o objetivo de reforçar a presença do governo federal na região Sul, considerada estratégica para o regime militar.
  • Mombaça (CE),1989: Em homenagem ao então presidente em exercício Antônio Paes de Andrade, que nasceu lá. Antônio era presidente da Câmara dos Deputados à época e estava na linha sucessória da presidência, na época ocupada por José Sarney.
  • Rio de Janeiro (RJ), 1992: Durante as discussões da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como ECO-92 ou Rio-92.
  • Itu (SP), 2017: A mudança teve caráter simbólico e comemorativo, como forma de homenagear a cidade de Itu, considerada o berço do movimento republicano no Brasil.
  • Belém (PA), 2025: Durante a COP 30, todos os atos e despachos do presidente da República, ministros de Estado e demais autoridades federais deverão ser registrados “como emanados da capital paraense, reforçando o papel central da Amazônia na agenda ambiental global e a liderança do Brasil nas negociações sobre o clima”.​

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